Desde os últimos anos da década passada, quando a fabricação de veículos elétricos e híbridos passaram a ter maiores proporções, e assim, uma oferta maior neste mercado, especialistas previam que até o ano de 2025 esses veículos seriam a maioria nas áreas urbanas e que, veículos movidos por combustíveis fósseis seriam raros a partir do ano de 2035. Porém, estudos recentes demonstram que ainda não estamos nos patamares apontados, mas quais seriam os motivos de tal descompasso?
O elétrico é um veículo automotivo, criado para o transporte de pessoas e/ou carga por meio de propulsão elétrica, dispensando a queima de combustível fóssil. A abreviatura usual e internacional é EV do inglês Electric Vehicle. O híbrido, por sua vez, é o veículo que possui um motor de combustão interna, normalmente a gasolina ou etanol, e também um motor elétrico, que permitirá manter o primeiro funcionando a baixas rotações, ou até mesmo, em certos momentos não funcionando. Assim, consegue reduzir de forma efetiva o consumo de combustível e a emissão de gases poluentes.
Contudo, nos primeiros dias de 2023, o Citibank divulgou o relatório “State of Global Electric Vehicle Adoption”, no qual demonstra, entre outras informações, que a utilização destes tipos de veículos é muito expressiva nos países da Europa e na China. Em outros países, inclusive nos Estados Unidos da América, sua utilização ainda é tímida, se comparada aos veículos à combustão, contrariando as expectativas mais otimistas anteriores.
Conforme o relatório, que foi elaborado pelo time global de analistas da instituição, especializados no setor automotivo, o porcentual de participação destes veículos de forma agregada fechou 2022 próximo à 15% no mundo todo e estimam que deverá chegar aos 20% ao final desse ano. Para o ano de 2030, estimam que chegue aos 45% em todo o mundo.
Na China, que é atualmente o maior mercado global deste tipo de veículo, as vendas representam 28% das vendas atualmente e preveem que até final de 2024 cheguem aos 50%.
Mesmo sendo este o maior mercado mundial, recentemente clientes da Tesla manifestaram a sua indignação, alegando que foram enganados por terem recebido os seus veículos dias antes da redução de preços, praticada pela Companhia. Por decisão atual do time comercial da empresa, foi resolvido que os preços seriam baixados entre 13% e 24% dos valores praticados em último setembro, o que gerou insatisfação em mais de 2 centenas de consumidores, que se sentiram lesados com tal prática e exigiram desculpas, bem como, a devolução de valores pela Companhia.
A Europa, por sua vez, ainda está abaixo do nível chinês, possuindo uma fatia de 15% do mercado para os veículos elétricos e híbridos ao final de 2022. A estimativa é de que atinjam os 50% somente no ano de 2028.
Os analistas acreditam que, se somados, China e Europa chegarão aos 67% no começo da próxima década, demonstrando assim, que permanecerão acima do restante do mundo até lá.
Nos Estados Unidos, assim como no restante do mundo, o porcentual é baixo e se concentra apenas nas regiões mais ricas do país, especialmente em 8 dos seus estados. A escolha destes veículos é maior entre os consumidores mais ricos, dentro dos seguimentos premium e de luxo, pois o porcentual ultrapassa os 20%. Por exemplo, a Califórnia é o estado que mais tem atraído os clientes deste tipo de veículo, com mais de 14% do total. A Flórida tem 9%, enquanto Nova York possui 7%. A estimativa da instituição é que em 2030 deve atingir 45% do mercado americano, assim como do México e do Canadá, fechando a América do Norte.
Por sua vez, no Japão estes veículos representam fatia bem diminuta, correspondendo à somente 2% e o porcentual deve subir para apenas 10% em 2028. Tal expectativa se dá ao fato de não ser uma nação tão consumerista como as demais analisadas. Na Ásia, após a China, quem lidera é a Coreia do Sul, com 10% na atualidade e podendo ultrapassar os 50% ainda em 2028.
No Brasil, mesmo tendo um ano de vendas recorde em 2022, conforme relatório apresentado pela ABVE (Associação Brasileira de Veículo Elétrico), ainda temos um porcentual insignificante se comparado aos veículos de combustão. Neste ano, foram licenciados 49.245 carros elétricos e híbridos, sendo um aumento de 41% se comparado aos 34.990 de 2021.
O último mês do ano foi o segundo maior de emplacamentos desde o início da série histórica (iniciado em 2012), com 5.587, sendo superado somente por setembro de 2022, com 6.391. Mesmo com números tão expressivos, a frota total de veículos desta natureza (incluindo veículos híbridos e comerciais leves (HEV), veículos elétricos híbridos plug-in (PHEV) e veículos elétricos a bateria (BEV)) chega aos 126.504, não chegando perto dos países da América do Norte, tão pouco da China e Europa.
Mas se sabemos que é tão importante essa mudança, tanto por questões climáticas impactadas pela emissão de gases quanto pela escassez de combustíveis fosseis, o que ainda está faltando em nosso país para que possamos ser um dos exponentes de tal revolução?
Um grande ponto é a infraestrutura necessária para o abastecimento, manutenção e descarte de peças deste tipo de veículo, especialmente sistemas elétricos e baterias. Por sermos um país com muita tradição em utilização de veículos movidos à combustão, inclusive uma das maiores forças em se tratando de matriz vegetal, por meio do etanol de cana-de açúcar, ainda não temos postos suficientes para abastecimento rápido em nossa malha rodoviária. Também não temos um corpo técnico de mecânicos com especialização e equipamentos para manutenção neste tipo de veículos, sendo ainda restrito às concessionárias das marcas nos grandes centros urbanos, dificultando muito a venda pelo nosso amplo território nacional.
Por fim, ainda temos dificuldade quanto o descarte de materiais utilizados na construção deste tipo veículos, especialmente das baterias, que necessitam de manuseio de forma adequada e descarte correto, sob pena de causar imenso impacto ao meio ambiente.
Outro ponto que dificulta o acesso à essa modalidade de veículo, é o preço praticado, em razão da tecnologia utilizada. Em sua grande maioria, os veículos elétricos são importados, em razão da inexistência de plantas fabris em nosso território que façam esse tipo de veículos. Temos montadoras que fazem poucos modelos desse tipo em nosso país, mas a grande maioria tem o seu know how voltado para a criação e montagem dos híbridos.
Por fim, o Governo deveria promover maior desoneração para este tipo de veículo, tanto para a aquisição quanto para o dia a dia. Além disso, seria uma boa prática determinadas ações, como estabelecer gratuidades ou espaços dedicados para estes veículos, além de algum tipo de bonificação para os que escolhessem trocar seu veiculo à combustão por elétricos ou híbridos.
Com estes três procedimentos, quais sejam: melhora na infraestrutura e estudo sobre o assunto, fomentação da tecnologia em nosso país e oferecimento de melhores subsídios do Governo aos adquirentes destes veículos, a nossa matriz vai se aproximar, aos poucos, do restante do mundo e então, poderá acompanhar essa mudança.
Se não nos atentarmos, vamos permanecer como somos hoje, na retaguarda do progresso, e não acompanharemos o restante dos demais países. Ainda nos resta a fé, de que em algum dia, iremos assumir a ponta da energia limpa, e guiar o mundo para esse caminho.